15.11.06

JOSÉ

Tarde de domingo. Parei em frente ao Parque da Luz para fotografar a torre da estação ferroviária, belíssimo prédio que por obra de cuidadosa restauração mostra-se novo em folha. Um senhor que vendia sorvetes em um carrinho da Kibon aproximou-se e mostrou-se interessado em meus cliques. Conversamos um pouco, saboreei um Cornetto de doce-de-leite e convidei-o para entrevista e fotos.

Qual é o seu nome?
José.

O senhor é daqui de São Paulo?
J: Sou daqui de São Paulo.

O senhor estava me falando que morou em São Vicente.
J: Morei em São Vicente.

Fora São Paulo e São Vicente, morou em algum outro lugar?
J: Não, aí é só aqui mesmo.

Por quanto tempo o senhor morou lá?
J: Cinco anos.

O senhor gosta mais de lá ou daqui?
J: Olha, lá é muito legal, mas o meu lugar mesmo é aqui.

Em que bairro o senhor mora?
J: Penha.

O senhor vem da Penha até aqui com o carrinho?
J: Não, o carrinho vem do Brás.

Então o senhor nasceu na Penha e mora na Penha até hoje.
J: Não, eu nasci em Cafelândia. Eu sou cafelandense.

O senhor veio para São Paulo com quantos anos?
J: Vim pra São Paulo já velho, eu morava no Paraná.

Cafelândia é no Paraná?
J: Não, Cafelândia é no estado de São Paulo.

O que o senhor fazia em Cafelândia?
J: Nem conheço Cafelândia. Eu fui criado lá pro Mato Grosso, lá pra Dourados.

O senhor conhece o Brasil todo, então!
J: É. Mato Grosso eu conheço. Eu conheço o Paraná. Eu estive em Maringá, trabalhei em Maringá, me casei em Maringá.

Ma o senhor gosta mesmo é de São Paulo.
J: É.

O senhor tem filhos?
J: Tenho.

Quantos filhos?
J: Sou pai de cinco filhos. Tem três vivos, todos criados.

Qual a idade deles? Todos grandes?
J: Ah... Tem um de 38 anos, uma menina tem 30 e a outra tem 25. Tenho dois, não... Três netos. Um neto com 17 anos, uma neta com 12 e a outra vai fazer 9.

Quantos anos o senhor tem?
J: Eu? 75.

Não parece. O senhor está bem.
J: Não parece, não é? Muita gente fala isso.

Pela sua experiência, me diga: qual a melhor coisa da vida?
J: Olha... Que a gente tenha saúde em primeiro lugar. Pra isso, tem que gostar de comer, na hora certa a gente dormir, e também levantar cedo pra trabalhar.

Por sinal, a tarde estava no fim. O senhor José fechou o guarda-sol colorido, despediu-se e saiu empurrando o carrinho de sorvetes. Três quartos de século de existência, mas que pique! Voltarei lá em outro domingo, para mostrar as fotos que fiz e também para tomar mais sorvete, sempre acompanhado de saborosa prosa.