21.5.07

IVANA

As três mulheres desciam a avenida Brigadeiro Luís Antônio apressadas. A luz da tarde de domingo ressaltava o cuidado delas com as roupas, com a maquiagem, com os adereços. Abordei uma delas quando as outras duas já subiam as escadas do Cartola Club, um dos mais famosos salões de baile de São Paulo.

Qual é o seu nome?
Ivana.

V&I: Pelo visto, hoje é dia de festa. Você sempre sai para dançar?

Ivana: Sempre. Todos os domingos e todas as sextas-feiras, com elas [aponta escada acima].

V&I: Elas são amigas, parentes?

Ivana: Uma é minha filha, a outra é minha amiga.

V&I: Que ritmos você mais gosta de dançar?
Ivana: Adoro bolero, samba...

V&I: Você dança há muito tempo?
Ivana: Ah, já há uns vinte anos.

V&I: E como você aprendeu a dançar?
Ivana: Sozinha!

V&I: Mas como que se aprende a dançar sozinho?
Ivana: Os parceiros ensinam!

V&I: Você tem parceiro fixo?
Ivana: Não. A cada vez que a gente vem, dançamos com pessoas diferentes. Sempre tem gente nova.

V&I: Funciona à moda antiga? É o cavalheiro quem tira a dama para dançar?
Ivana: Exatamente. Ainda é assim.

V&I: Bolero é sua especialidade?
Ivana: Sim. E samba também.

V&I: Algum ritmo mais difícil de dançar, alguma coisa que você tentou e não conseguiu?
Ivana: Tango. [Faz uma pausa e parece suspirar.] Tango é uma arte...

O baile já tinha começado e mesmo da calçada onde eu me encontrava a música era audível. Não apenas minha interlocutora, mas também as pessoas que chegavam mostravam-se nitidamente apressadas, ansiosas por dançar; por isso, não me estiquei em mais perguntas. Pedi para fotografá-la; ela chamou a filha para as posar com ela e enfim Ivana pôde subir as escadas para entrar no baile. E eu, que sou completamente desconjuntado quando tento dançar, fiquei ali pensando que, inegavelmente, o tango é uma arte.

***

Esta foi a primeira entrevista que fiz baseada não no acaso de encontrar as pessoas nas ruas, mas sim em uma pauta pré-definida. A idéia de conversar com frequentadores dos salões de baile foi da Maray, do Che Caribe. Em breve, pretendo voltar ao Cartola Club no final do baile, um horário com dançarinos menos descansados e com mais tempo para o exercício da prosa.