3.7.07

MARCOS

A noite nem era das mais frias e eu estava fazendo fotos no Centro de São Paulo. Já passava das onze, um horário em que não se vê turistas no Pátio do Colégio, mas apenas moradores de rua. Foi então que conheci Marcos.

Qual é o seu nome?
Marcos.

V&I: Pelo seu sotaque, você é do sul.
Marcos: Sou gaúcho.

V&I: O que você está fazendo nesta noite de quinta-feira, aqui no Pátio do Colégio?
Marcos: Eu sou um missionário de rua, eu trabalho na evangelização de moradores de rua. Eu também encaminho esses moradores para nossas casas de acolhida, onde oferecemos toda a assistência que eles precisam, tanto médica quanto espiritual, assim como em relação a outras coisas como emprego e roupas.

V&I: Atividades filantrópicas.
Marcos: Isso mesmo, o nosso trabalho é um trabalho filantrópico. A gente não tem recursos, a gente conta com a providência de Deus.

V&I: Para qual entidade e há quanto tempo você faz esse trabalho?
Marcos: Para a Missão Belém. Eu sou consagrado há três anos.

V&I: Explica para mim: o que significa “ser consagrado”?
Marcos: Ser consagrado? Significa que eu dedico minha vida a trabalhar para Deus.

V&I: Você é leigo ou tem formação teológica?
Marcos: Eu estou fazendo teologia, sexto semestre. Em dezembro eu pretendo começar meu noviciado e me tornar seminarista.

V&I: Vai se tornar padre?
Marcos: Não, vou me tornar frei, pois eu sou franciscano.

V&I: Qual a diferença de um padre e de um frei?
Marcos: O estudo do frei é diferente do estudo para o sacerdócio. Mas a primeira coisa que nós, franciscanos, abandonamos, são os bens materiais. Temos voto de pobreza. Um franciscano não tem mais de duas calças e duas camisas. Nós vivemos mais para o irmão do que para nós mesmos.

V&I: Qual a estrutura da Missão?
Marcos: Nós somos trinta missionários, dois padres e duas freiras.

V&I: Quantas pessoas são atendidas por esse projeto?
Marcos: Em São Paulo nós temos dezesseis casas, desde Bragança [Paulista] até Rio Grande da Serra, com um total de seiscentos irmãos acolhidos.

V&I: Você passa ao dia todo se dedicando a esse trabalho?
Marcos: O dia inteiro. Estou dormindo na rua há dez dias. É difícil, é preciso ter muita força de vontade. Hoje eu tinha dinheiro para almoçar, mas tinha um irmão para levar até a comunidade. Eu não almocei, eu levei o irmão. Às vezes a gente tem que renunciar às coisas em prol de um irmão.

V&I: Parabéns pelo trabalho, meus votos de sucesso.
Marcos: Obrigado.

V&I: E se algum leitor quiser conhecer esse trabalho?
Marcos: Quem quiser pode nos visitar. Estamos na rua Nélson Cruz 10, ao lado da Febem do Tatuapé.


Marcos se despediu e saiu na direção de um grupo de moradores de rua. Antes, pedi para fotografá-lo; gentil, mas firmemente, alegou que não podia se deixar fotografar. Por isso, excepcionalmente, as tradicionais fotos do entrevistado foram substituídas por esta foto que fiz no Pátio do Colégio em 2006.

Em tempo, uma curiosidade: achei um sítio bílingüe (italiano e português) da Missão Belém. A página inclui umas poucas fotos (clique aqui para ver).